A pesquisa em arquivos, sempre tão presente no ofício do historiador hoje me presenteou com uma boa lembrança. Em meio a reflexões acerca dos caminhos da prática docente e questionamentos acerca do valor que a educação tem para nossos alunos, me deparei com um documento que me reportou à respostas escondidas num passado recente. Em 2006, realizei um projeto que denominei História em Versos com alunos de uma turma de 7 série do Colégio Destaque, em Salvador. Tratava-se de uma turma de cerca de 28 alunos adolescentes, entre 13 e 14 anos. Organizamos um Sarau onde o tema central foi a reflexão acerca do processo de abolição da escravatura no Brasil. O tema do Sarau foi Repensando o 13 de Maio. Os garotos recitaram poesias de Castro Alves, Luiz Gama e Agostinho Neto (em homenagem ao povo angolano). Além disso, recitaram pomas próprios, criados em sala de aula ao sabor das discussões e debates realizados durante as aulas. Na verdade, o Sarau foi só a finalização de um belo aprendizado para eles... e um aprendizado maior ainda para mim. Hoje, vasculhando alguns arquivos, reencontrei um dos poemas e compartilho da felicidade de tê-lo reencontrado.
TEMPO ESCRAVISTA
SENHORES MALDOSOS
SENHORES SEM PENA
POR QUE FIZERAM ISTO?
MALDITOS, MALDITOS!
POR NÃO SEREM DA SUA COR?
POR “NÃO TEREM” O SEU “VALOR”?
O QUE É ISTO?
HOMENS SE SUICIDANDO...
HOMENS SE PERGUNTANDO:
POR QUE TANTA TRISTEZA?
POR QUE TANTA MALVADEZA?
MAS ERA ASSIM A NOSSA REALIDADE
TRISTE E CRUEL
SÓ TÍNHAMOS A PERCEBER
OS GRANDES CHOROS
E OS RANGERES DOS DENTES.
Vanessa Santos, 13 anos. (Ex-aluna. Turma da 7 série do Colégio Destaque / 2006)